quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Julio Bressane por Iara Magalhães na Socine

Iara Helena Magalhães, professora, pequisadora e membro da novamídia, teve um trabalho de pesquisa aprovado para o Encontro da SOCINE 2008, no seminário temático CINEMA COMO ARTE, E VICE-VERSA. Seu trabalho foi elogiado pelos coordenadores do seminário temático e contatos de envio da dissertação de mestrado e apresentações do trabalho em faculdades de cinema e audiovisual brasileiras já estão agendados. Segundo, Iara foi muito importante participar da SOCINE, pois através das reflexões sobre o cinema e principalmente sobre o estudo de cinema e do audiovisual no Brasil, pudemos construir outras reflexões sobre as mediações que o cinema estabelece entre os homens e o mundo e entre eles mesmos. O cinema também e sobretudo como prática do espectador, concebida como uma “instância de confrontação do corpo individual e do corpo social.


ítulo:

DOIS PONTOS – JÚLIO BRESSANE APRESENTA SÃO JERÔNIMO

RESUMO

São Jerônimo, 28º longa de Júlio Bressane, é referencial na pesquisa do espaço, do tempo, da duração e dos movimentos: Bressane estudou durante onze anos a vida e a obra de Jerônimo para traduzi-lo para o cinema. Através do conceito de imagem-tempo como regime original e signo da modernidade do cinema pensamos técnicas de ver, ouvir e sentir o tempo no filme, refletindo sobre os dois pontos que separam Bressane de São Jerônimo.

RESUMO EXPANDIDO

Esse trabalho destina-se a analisar a técnica composicional no cinema, pesquisando a técnica de criação do filme São Jerônimo, de Júlio Bressane. São Jerônimo foi construído a partir de uma série de documentos, leituras, pinturas, teses que transitam entre o fascínio pela iconografia ligada ao santo e a imanência do filme sendo realizado. Um processo de tradução do processo de traduzir. No filme, os documentos sobre Jerônimo se constituem como passagens críticas, ora se aproximam da verossimilhança e ora se afastam dela, para novamente remeterem a uma outra espécie de documento, o filme sendo encenado. Todavia, o filme não se situa no sentido inverso da ficção, porque não apaga o gênero, mas inclui na ficção um desejo de documento sendo feito entre os seus desejos. Um discurso reinvestido de ficção, e uma ficção revestida do desejo de documento. São Jerônimo se inicia com a seqüência do filme sendo produzido, deixando ver o lugar do espectador, do diretor, da equipe de produção, dos atores em cena, em um travelling de conjuntos de partes a mostrar o filme tentando se tornar filme. Os sete primeiros minutos do filme foram vistos e lidos para realizar uma análise fílmica rigorosa, entre segmentos e planos, movimentos de câmera e enquadramentos, na tentativa de tramar uma armadilha para buscar o tempo. Realizamos uma primeira apresentação do tempo no filme São Jerônimo repousando- nos sobre os dois pontos (:) do título deste trabalho quais sejam, o filme sendo feito e o peso da documentação sobre o santo. Este circuito se agita nos doze anos que Julio Bressane estudou Jerônimo; na tese de doutoramento de Dom Paulo Evaristo Arns, de 1953, A técnica do livro segundo São Jerônimo, uma vez que é de Júlio Bressane o texto da contracapa da tese publicada em livro em 1993; nos efeitos do tradutor como explicador dos possíveis; do mundo possível de São Jerônimo, no século IV, no início do cristianismo, ao lado dos padres do deserto e como consultor do Papa Damaso; na imagem de um deserto - sumário e superficial - e nesse imenso lugar pleno de luz está São Jerônimo com seus livros, um leão e o esqueleto de um crânio. Por mais central que seja esta imagem no filme ela é marcada pelo signo do provisório, condenada a ser desviada pelos sons do vento, trazendo canções de outros lugares, palavras e sotaques também de outros lugares. Bressane realiza um filme utilizando na técnica de sua composição movimentos aberrantes de recepção da luz e do som, ordenando e encadeando movimentos, libertando as imagens da cadeia de presentes nos apresentando os atores e seus duplos; quadros vivos, ópticos e sonoros, numa mise-en-scène a projetar no filme o que os textos de Jerônimo projetaram no tempo. O foco dessa pesquisa é o tempo. O tempo que nasce da emancipação do movimento pela luz e pelo som. O tempo na imagem e no drama cinematográficos. Esse estudo orientou-se pelas obras A imagem-movimento e A imagem-tempo, de Gilles Deleuze. O estudo do conceito imagem-tempo, tempo emancipado do movimento, como o regime original das imagens e signos da modernidade do cinema, possibilitou-nos pensar as técnicas de ver, ouvir e sentir o tempo em São Jerônimo. A análise dos dois pontos nos ajudou a começar a apreender o tempo no filme e a estudar a técnica composicional no cinema , a técnica de criação do filme São Jerônimo - diante da pedra e da câmera, do silêncio e do rumor do vento, da impressão de antiguidade e do interminável, do deserto e do sertão, diante de um pensamento sobre o tempo ou da fundação de uma idéia de tempo envolvido na palavra e na imagem no cinema – um pensamento fugaz: dois pontos.
Palavras-chave: Cinema. São Jerônimo. Júlio Bressane. Técnica. Tempo.



BIBLIOGRAFIA

ARNS, Paulo Evaristo. A técnica do livro segundo São Jerônimo. Rio de Janeiro: Imago, 1993.
DELEUZE, Gilles. A imagem-movimento. Tradução de Stella Senra. São Paulo: Brasiliense, 1985.
______. A imagem-tempo. Tradução de Eloísa de Araújo Ribeiro. São Paulo: Brasiliense: 1990.
PARENTE, André. Narrativa e modernidade: os cinemas não-narrativos do pós-guerra. Campinas, SP: Papirus, 2000.
PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica e filosofia. São Paulo: Cultrix, 1975.


MINI CURRÍCULO

Mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2007). Professora do Curso de Produção Audiovisual do Centro Universitário do Triângulo. Gestora de projetos audiovisuais para comunicação e mídias, com ênfase no campo audiovisual: cinema, crítica, história do cinema, linguagem audiovisual e exibição de filmes. Exerceu cargos de gestão nas áreas de educação e cultura em organizações públicas e privadas e membro da novamídia.

Saiba mais sobre a Socine

A Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual -- Socine -- foi criada em novembro de 1996 com o objetivo de promover a realização e o intercâmbio de pesquisas e estudos de cinema em suas mais diferentes manifestações, incentivando assim a reflexão e a troca de idéias sobre cinema e audiovisual no Brasil. Hoje, a Socine conta com 364 sócios, a maioria deles professores e alunos de pós-graduação e graduação, que representam cerca de 18 universidades brasileiras.

A Socine promove encontros anuais que se configuram atualmente como o espaço mais importante para a divulgação e o debate dos mais recentes estudos e pesquisas voltados para as manifestações do fenômeno cinematográfico e áreas afins. O encontro anual é também parte do esforço da entidade em propiciar oportunidades concretas de interação entre os profissionais, produtores, críticos, pesquisadores, professores e estudantes do campo do audiovisual das diferentes regiões do país.

A entidade promove o debate sobre a educação do audiovisual no Brasil, estando associada, nessa tarefa, ao Forcine -- o Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual. Ao lado da Compós -- Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Comunicação, Socine e Forcine têm participado da definição de políticas no campo do ensino do audiovisual junto às agências de fomento à pesquisa, como Capes e CNPq.

A reunião de 2008, se realizou em Brasília de 15 a 18 de outubro, esse ano, a SOCINE trouxe uma nova modalidade de participação. Além das mesas pré-constituídas (com três participantes) e das comunicações individuais, práticas correntes em anos anteriores, houve a modalidade Seminários Temáticos:

Cinema Como Arte, E Vice-Versa; Cinema e Televisão, Múltiplas Interlocuções Possíveis; Cinema No Brasil: Primeiras Décadas (1896-1942); Cinema, Transculturalidade, Globalização; Corpo E Audiovisual; Gêneros Cinematográficos Na América Latina; Indústria E Recepção Cinematográfica E Audiovisual.

Visitem o site www.socine.org.br

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